Esta carta que aqui publico, também surgiu do curso de escrita criativa. Neste caso o professor pediu que escrevêssemos uma carta de desamor, e todos nós ficámos surpreendidos porque normalmente escrevem-se cartas de amor... ao que o professor justificou, que escrever cartas de amor é fácil, o difícil é escrever o contrário. Como escreveu Álvaro de Campos, "Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas."
Manhã de Inverno, dia chuvoso, frio, cinzento, tristonho… daqueles dias bons para ficar em casa e reflectir.
E aqui estou eu, na cama, virada para a janela, em frente a um computador… pronta a teclar aquilo que me vai na alma… o que sinto… aquilo que penso e que não digo por falta de coragem.
Estou como o tempo. Mas é assim que me sinto e não é por isso que vou deixar de escrever. Nem sempre podemos escrever coisas boas, às vezes também há necessidade de escrever sobre coisas menos boas.
A minha vida, apesar de ainda ser uma vida jovem (maneira eufemística para dizer que ainda sou pouco experiente, pouco vivida), está cheia de acontecimentos, felizes e infelizes, importantes e insignificantes, longos e curtos, pensados e impulsivos, amados e odiados, doces e amargos, cheirosos e fedorentos, corajosos e covardes, generosos e egoístas, sorridentes e chorosos, verdadeiros e mentirosos …
Mas é a minha vida, e são estes momentos que me caracterizam enquanto pessoa, são eles que fazem de mim, quem sou.
E tu também fizeste de mim o que sou.
Sim tu, é para ti e por ti que escrevo estas palavras. Para de alguma forma me compreenderes melhor. Pois eu sei que às vezes faço-me incompreendida.
Eu sei que não sou perfeita, nem sempre escolho as melhores palavras para dizer aquilo que sinto, por vezes expresso-me mal. Escolho sempre o caminho mais difícil, aquele que é mais comprido, tem mais “buracos”, menos luz…aquele que provoca mais danos em mim e nos outros. E eu não quero que assim seja. Chega de magoar aqueles que mais amo, onde tu ocupas o primeiro lugar.
Quero mudar e preciso da tua ajuda.
Faz de mim aquela pessoa que gostarias que eu fosse, e acredita, que também é esse o meu desejo.
Não desistas de mim. Preciso de ti. E sei que tu também precisas de mim.
Chama-me à atenção mesmo que eu não quero esse tipo de atenção. Diz-me que estou errada e não me faças pensar que estou cheia de razão. Fala comigo, não me ignores. Chama-me pelo nome, mesmo que esse nome não seja o meu nome próprio.
Toma posse deste corpo que é teu, e que tardas em querer possuir.
Usa-me, porque esperas? Ensina-me tudo aquilo que aprendes-te e que só tens em teoria.
Olha para mim:
Não quero ser como o tempo, inconstante. Quero ser uma só estação, e de preferência a Primavera. Quero saber o que dizer, como dizer e quando e onde dizer. Como esta carta.
Quero que os momentos que ainda tenho por viver, sejam sinónimos de coisas boas e não antónimos dessas mesmas coisas. Quero ser feliz, importante, amada, doce, corajosa, generosa, verdadeira…
A ti, peço-te que não vejas esta carta como um simples desabafar de pensamentos e emoções, de alguém que acordou triste e que resolveu por no papel aquilo que sentia nesse dia.
Não! Nada disso.
Escrevi esta carta, não apenas para desabafar. Escrevi-a porque achei que tinha necessidade de me mostrar a mim mesma, de me apresentar, de me conhecer, de saber quem sou. Pois apesar de parecer ridículo, apresentar-me a uma pessoa que já conheço, nada disso é ridículo. Muitas vezes não me conheço…não queria ser assim.
Que estas palavras que hoje escrevi, não sejam em vão. Que um dia possam preencher as linhas em branco que há dentro de mim.
Pensa em ti e lembra-te de mim,
Adorei. Acho que está uma espantosa carta de desabafo, que podia ser escrita por qualquer um de nós, porque todos sentimos que somos imperfeitos, aspiramos a mais e melhor. Ofendemos sempre os que menos queríamos ferir, arrependemo-nos muito e insistimos muitas vezes nos mesmos erros.
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