Ainda não há muito tempo, desabafei sobre o facto de estar farta de andar de transportes públicos, e não é que hoje aconteceu uma daquelas situações caricatas, próprias dos transportes públicos.
Estava eu muito bem a dormir no meu lugarzinho de turística no suburbano de Alcântara-Terra, e quando já estou quase no fim da viagem, ainda a saborear os meus últimos minutos de sono, eis que aparece uma figura ímpar na carruagem em que me encontrava. E que dizia mais ou menos isto:
Ó menina, sabe qual é o animal mais antipático do jardim zoológico? É o elefante, porque está sempre de trombas.
Ó menina, sabe qual é a coisa mais parecida com o ordenado? É o período. Vem uma vez por mês, quando vem. E quando não vem é um problema.
Ó menina, sabe o que é que uma senhora de 80 anos tem entre as pernas? O cemitério dos prazeres.
Só me lembro destas, mas o senhor tinha um repertório que nunca mais acabava. Tinha uma adivinha para cada pessoa, e num comboio num dia de semana, às 7h00 e tal da manhã não é para todos.
Até que teve a sua graça, para mim nem tanto porque acordou-me. E detesto ser acordada. Mas pronto, o senhor animou a malta, as mulheres ficaram todas contentes, e no fim até teve direito a moedinha e tudo.
Sim porque, tudo isto tinha uma razão, o senhor estava ali para pedir esmola. Esteve três meses ligado a uma máquina, a mãe estava internada no hospital e o pai tinha morrido há uns anos. É o país em que vivemos. A sociedade que temos. As pessoas precisam de chegar a este ponto. É triste. Mas é ainda mais triste, ver como a tristeza de uns, faz a alegria de outros.